Você se sente tão estéril porque, sem o seu conhecimento, algo como um espírito mau interrompeu a origem da sua fantasia, a fonte da sua alma.
O inimigo é seu próprio enxofre bruto, o qual queima como o fogo infernal do desejo, ou concupiscentia. Você gostaria de fazer ouro porque “a pobreza é a maior praga, a riqueza o maior bem”. Você deseja ter resultados que enalteçam seu orgulho, você espera algo de útil, mas não há nem sombra disso como você, chocado, acabou de perceber. Por causa disso, você nem quer ser mais fértil, pois isso seria apenas para o bem de Deus, mas infelizmente não para o seu próprio... Afasta, pois, esse desejo bruto e vulgar, o qual, infantilmente e com visão curta, vê apenas os objetivos dentro do seu próprio horizonte limitado... Portanto, reflita um pouco e considere: o que está por trás desse desejo? Uma sede pelo eterno... Quanto mais você se apega ao que todo mundo deseja, mais você é um homem qualquer, e tropeça pelo mundo como um homem cego conduzindo outros cegos para o fosso com uma certeza sonambúlica. Um “homem qualquer” é sempre multidão. Retire do seu interesse aquele enxofre coletivo que se apega a tudo como lepra. Pois o desejo apenas queima para queimar a si mesmo e, de dentro desse fogo e a partir desse fogo, surge o verdadeiro espírito vivo que gera vida de acordo com suas próprias leis... Isso quer dizer: queimar dentro do seu próprio fogo e não ser como um cometa ou um farol brilhante, mostrando aos outros o caminho certo, mas sem que você mesmo conheça. O inconsciente exige o seu interesse para o próprio bem, e quer ser aceito pelo que ele é. Uma vez que a existência desse oposto é aceita, o ego pode e deve chegar a um acordo com suas exigências. A menos que o conteúdo dado a você pelo inconsciente seja reconhecido, o seu efeito compensatório não só é anulado, mas na realidade transforma-se no seu oposto, tentando, então, se realizar literal e concretamente.
C. G. Jung,
Mysterium Coniunctionis
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